As transições de atletas nas categorias de base são evidentes e fazem parte do processo de formação do jogador de futebol. Como bem se sabe, cada categoria possui sua faixa etária e conta com competições específicas. Isso ajuda a manter uma equidade em competições com jogadores jovens. Consequentemente, à medida que envelhecem, os jogadores fazem as transições para as categorias posteriores.
As transições precoces
Muitos jogadores de base se destacam tanto em suas categorias, que são logo promovidos para a categoria maior. Ou seja, este jogador passa a atuar em treinos e competições com outros jogadores mais velhos. Porém, essas transições de categorias são muito perigosas caso não se tenha cuidado especial com o desenvolvimento global do jovem. Pois, mesmo com boa capacidade técnica, física e tática para jogar com jogadores mais velhos, devem-se considerar outros aspectos, como o processo maturacional, cognitivo e social.
Assim, as transições precoces dos atletas merece atenção especial por parte de profissionais como psicólogos, treinadores, auxiliares, dentre outros. Isso porque é necessário garantir uma transição adequada para que não se perca aquele talento.
Nas categorias de base a presença da Psicologia é fundamental. Um dos papéis do psicólogo do esporte é promover a autonomia daquele jovem. Uma boa intervenção do psicólogo na base, implica desenvolver as potencialidades e trabalhar formas de lidar com as vulnerabilidades do atleta. Ademais, para além do âmbito esportivo, formar atletas é um processo ético e social.
A transição da base para o profissional
A transição onde comumente ocorrem problemas é a transição base-profissional. Pois, o aproveitamento de jogadores da base na categoria profissional nem é sempre planejado. Em muitos casos, a necessidade cria a oportunidade para atletas jovens no “time de cima”. E geralmente acontece quando um clube está sem muito recurso para contratações ou quando há lesões/suspensões.
Nesse sentido, a transição da base para o profissional tem uma diferença muito maior em todos os aspectos. Isso porque, além do ritmo de jogos e treinos terem maior volume, outros aspectos também incrementam essa mudança. Por exemplo, ocorre uma visibilidade muito maior aos atletas e críticas mais negativas quanto positivas. Isso pode acabar minando a autoconfiança de um atleta ou o “deslumbrando”, gerando percepções distorcidas sobre seu potencial.
Além do mais, vale destacar que a dinâmica de jogo no futebol profissional requer um “profissionalismo” com cobrança diferente da base. Existem mais exames, dietas, restrições, rotinas puxadas, etc. Isso pode fazer com que um jovem craque tenha problemas de adaptação e oscilação de desempenho. Tais dificuldades, no entanto, nada tem a ver com qualidade técnica, física ou tática. Portanto, são as mudanças gerais que levam um tempo maior para serem assimiladas.
Problemas comuns nas transições de atletas no Brasil
É comum vermos equipes que são campeãs em torneios de base que não rendem muitos atletas aos profissionais. A falta de um planejamento nas categorias de base dos times brasileiros parece ser reflexo da falta de planejamento no futebol profissional. Por exemplo, pouquíssimos times possuem uma cultura de jogo definida. Isso, por sua vez, faz com que escolhas de técnicos não se baseiem numa filosofia de jogo ou mesmo no modelo de jogo. Neste sentido, a falta de um norteador acaba gerando diversos problemas, tais quais:
- Categorias de base jogando com diferentes modelos de jogo. Isso, por si só não é um problema, já que é importante que atletas desenvolvam habilidades e conhecimento em diversas maneiras de jogar. O problema é a falta de critério para estabelecer esse “rodízio” de modelos de jogo.
- A base não é vista como um processo de formação de jogadores, mas sim uma espécie de seleção daqueles que mais se destacam.
- Os títulos têm grande importância, o que faz com que treinadores de base, por vezes, visem mais o resultado do que a formação.
Assim, esses e outros problemas oriundos das más gestões de muitos clubes culminam em dificuldades que afetam a formação de atletas. Além disso, atletas brasileiros saem cada vez mais novos para o exterior, a fim de socorrer os problemas financeiros dos clubes que os forçam a se desfazerem de suas joias muito cedo.
Como resolver os problemas das transições de atletas na base?
As transições nas categorias de base podem ser fruto de um desejo de acelerar o desenvolvimento de um jovem talento, bem como da necessidade de um clube. Em ambos os casos, é crucial um planejamento e acompanhamento de atletas em transição. A princípio, os clubes precisam gerir melhor seu departamento de futebol e alinhar o futebol de base ao profissional. E em segundo lugar, investir em profissionais qualificados que auxiliem a formação dos atletas em todos os sentidos.
Para concluir, o processo de transições de atletas nas categorias de base é natural, mas não deve ser forçado e sem critérios. Cabe aos agentes desse processo conduzirem-no cuidadosamente. Assim, portanto, teremos mais atletas bem formados e menos promessas desistindo do esporte por conta de fatores adaptativos.
Confira abaixo um episódio do Podcast sobre o assunto:
Contato do Autor: @28padilha
matheuspadilhaar@gmail.com
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