No texto anterior sobre Periodização Tática, explicamos sobre os principais conceitos e princípios que regem esta metodologia. Agora, abordaremos neste artigo os conceitos de natureza fractal e teoria do caos na Periodização Tática.
Geometria fractal e a Teoria do Caos
Então, de forma bem resumida, a geometria tradicional, aquela que conhecemos nos tempos de Escola, não conseguia descrever várias das formas vistas na natureza, devido às suas irregularidades. Notando isto, o Matemático Benoit B. Mandelbrot desenvolveu o conceito de fractal, visando “[…] descrever e analisar a irregularidade estruturada do mundo real”.
Em seu livro Mandelbrot diz:
“Nuvens não são esferas, montanhas não são cones e os raios não viajam em linha reta. A complexidade das formas da natureza difere em tipo, não apenas em grau, daquela das formas da geometria comum, a geometria das formas fractais”.
Mas o que isso tem a ver com a Teoria do Caos?
A princípio, apenas para contextualizar, de forma bem sucinta: a Teoria do Caos fala sobre o quanto alguns eventos podem ser suscetíveis às condições iniciais. Ou seja, algo à primeira vista sem relevância pode influenciar muito no médio ou longo prazo. Dito isto, para quem se interessa pelo tema, recomendo o filme “Efeito Borboleta”.
Bom, agora para responder a pergunta, iniciaremos a partir de um trecho publicado por Batanete e Castro que diz que “a teoria do caos não é uma teoria de desordem, mas busca no aparente acaso uma ordem intrínseca determinada por leis precisas”.
Pois bem, uma figura fractal nos apresenta algo extremamente complexo, mas que segue um padrão em sua forma, onde, olhando para suas partes conseguimos enxergar o todo. Ou seja, dá uma forma a algo caótico, que a princípio parecia pura desordem e de extrema aleatoriedade, mas no fim conseguimos notar um padrão, onde sua parte é idêntica ao todo. Notou a sua ligação com a Teoria do Caos? Como citamos, a Teoria do Caos busca no aparente acaso uma ordem intrínseca, algo apresentado em figuras fractais.
Como é uma figura fractal?
De antemão, vamos citar o trecho da Tese de Doutorado do Prof. Rodrigo Leitão, temos que:
“[…] em uma figura fractal, qualquer mínimo pedaço seu, será em forma e conteúdo, a expressão idêntica de sua figura maior (o todo) a qual está contida, ou de um pedaço menor (o qual está contido nele). […] A ideia marcante de que, em uma figura fractal, um pequeno pedaço contém o todo, vai ao encontro das teorias da complexidade e permite que se enxerguem fenômenos diversos, em sua totalidade. ”
Agora, repare na imagem a seguir:
Note como a estrutura se mantém similar, tanto na forma fragmentada como no todo. Isto quer dizer que o micro sempre se parecerá com o macro. E podemos levar isto para o futebol.
Geometria fractal e a Periodização Tática
Reduzir sem empobrecer, este é um dos lemas da Periodização Tática. Então, isso quer dizer que o treino precisa ser um fractal do jogo, ou seja, ao se observar o treino é possível ver a manifestação de acontecimentos do jogo. Claro, ao falar de jogo, queremos falar da forma com que a equipe em questão atua, quais são as suas ideias ao jogar. E estas ideias que constroem seu jogo devem ser expressas em todos os momentos do treino.
Sendo assim, quando criamos um treino, devemos ter em cada mini jogo uma representatividade do jogo. Não faria sentido fazermos um treino que não representasse o que ocorrerá na partida em questão. Portanto, quanto mais aproximarmos nossos jogadores no treino do que realmente acontecerá no jogo, mais bem preparados eles estarão para este grande momento do futebol.
Por fim, para concluir, apresentamos o trecho da dissertação de Julian B. Tobar:
“Daí a importância de que em todos os treinos, a dimensão fractal do jogar esteja presente, em maior ou menor escala, mas deverá estar sempre se reportando ao jogar, às intenções prévias pretendidas.”
Contato dos Autores
Chrístopher Kilpp Suhre
Instagram: @Christopher_Suhre
Roberto Augusto Lazzarotto Pereira
Instagram: @ralazzarottop