Avaliação psicológica da personalidade do jogador de futebol

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Imagem de David Mark por Pixabay

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A Psicologia aplicada ao futebol pode fornecer várias ferramentas para melhorar a relação entre atletas e comissão, bem como aumentar o rendimento esportivo. Uma delas é a avaliação psicológica, também chamada de psicodiagnóstico esportivo. Esse procedimento refere-se ao levantamento de aspectos particulares do atleta. Através dele é possível aproximar-se de características pessoais ou grupais que vão oferecer subsídios para intervenções ou tomadas de decisão futuras. Inclusive as características da personalidade do jogador de futebol.

Constantemente vemos discussões acerca da personalidade dos atletas, treinadores e demais personagens ligados ao futebol. É comum ouvir expressões como “Esse tem personalidade” ou “Esse tem personalidade forte”. Esses termos são geralmente utilizados na tentativa de explicar um comportamento inadequado de algum atleta. E o que é personalidade? Como isso influencia no futebol?

Definindo o que é personalidade

A princípio, a personalidade é definida como os conjuntos característicos de comportamentos, cognições e padrões emocionais que evoluem a partir de fatores biológicos e ambientais. Desse modo podemos perceber que trata-se de algo extremamente individual e único. Assim compreende-se que o a realização do trabalho com atletas possui características singulares. É necessário saber o que cada um necessita.

Dessa forma, a expressão da qual falei no início do texto (personalidade forte) geralmente se refere a pessoas que são bastante resilientes, se mantêm firmes diante das adversidades. E também refere-se a pessoas que costumam ter pouca sensibilidade e são mais “explosivas” em suas reações. Essa expressão está equivocada conforme o conceito de personalidade na Psicologia. Não se pode dizer que existe uma personalidade forte ou uma personalidade fraca. Portanto, o que pode ser afirmado é que algumas pessoas possuem determinadas características com maior prevalência do que outras.

A importância de entender personalidade do jogador de futebol

Estabelecendo as características da personalidade do atleta, bem como tomando conhecimento de informações das dimensões cognitiva, emocional, psicofisiológica e social, podemos ter recursos para planejar as intervenções. Um exemplo é a forma de se comunicar ou de cobrar algum atleta. Existem atletas que respondem melhor sob pressão, com forte cobrança e insistência. E também existem outros que podem responder melhor quando estão relaxados e confiantes. Porém, eles perdem o foco quando são cobrados com veemência. Há poucos dias o treinador Fernando Diniz esbravejou à beira do gramado com o atacante Luciano e o fato viralizou.

Existem, portanto, diferenças significativas na comunicação com os jogadores, que podem tornar mais ou menos efetiva essa troca de informação.

Como a avaliação psicológica pode ajudar no rendimento esportivo?

Assim como a questão da cobrança e da comunicação, a Avaliação Psicológica ajuda a detectar potencialidades e dificuldades relacionadas ao desempenho esportivo. As intervenções não servem só para corrigir possíveis problemas, mas também para potencializar virtudes. Portanto, compreendendo as necessidades de cada atleta, pode-se trabalhar individualmente suas necessidades com maior efetividade. Seja através do treinamento de habilidades psicológicas (THP) ou num encaminhamento para a psicologia clínica.

Em suma, a avaliação da personalidade no contexto esportivo serve de base para o planejamento de intervenções com os atletas. Nesse ponto é importante ressaltar que existem comportamentos mais ou menos adequados para um atleta de futebol, porém não se pode falar sobre ter uma personalidade boa ou ruim. As pessoas são diferentes e agem de maneiras completamente distintas. Umas podem cometer mais ou menos erros, dependendo de vários fatores, incluindo a personalidade. O que não se pode é pensar que existe um perfil correto para ser jogador de futebol e que temos que adequar os atletas a esse perfil psicológico. Se assim o fosse, muitos dos atletas que marcaram história no futebol, considerados “Bad Boys”, temperamentais, nervosos, calmos demais, etc., não teriam nos agraciado com os momentos mais épicos desse esporte.

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Contato do autor: matheuspadilhaar@gmail.com
Instagram: @28padilha

Confira um episódio do Podcast Ciência da Bola que fala sobre o assunto:

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João Bonfatti

João Bonfatti atualmente trabalha como Coordenador do setor de Análise de Desempenho no América-MG. Antes disso, teve passagens pelo Vasco da Gama, onde atuou em diferentes categorias: foi auxiliar técnico do Sub-20, treinador interino do Sub-17 e auxiliar técnico do Sub-17.

Atuou também pelo Atlético-MG, onde desempenhou o papel de auxiliar técnico do Sub-15. No Corinthians, auxiliar técnico do Sub-14, além de exercer a função de supervisor metodológico.

Sua formação inclui o Bacharelado em Futebol pela Universidade Federal de Viçosa e a Licença B da CBF Academy, o que reforça sua base teórica e prática no desenvolvimento de atletas.

Felipe Bonholi

Felipe Bonholi integra a equipe do Palmeiras como Analista de Desempenho no Centro de Formação de Atletas (CFA), contribuindo para o desenvolvimento e acompanhamento de jovens talentos.

Antes disso, acumulou cinco anos de experiência na Ferroviária, onde atuou como Analista de Desempenho da equipe profissional, e no São Carlos Futebol Clube na mesma função.

Sua formação acadêmica inclui Bacharelado em Administração de Empresas pela UNIARA (2014–2017) e graduação em andamento em Educação Física pela mesma instituição, iniciada em 2019.

Com sólida base teórica e ampla experiência prática, Felipe Bonholi se destaca por sua capacidade de integrar análise técnica, gestão e visão estratégica no contexto esportivo, contribuindo para o desempenho e evolução de atletas e equipes.

Mylena Baransk

Mylena Baransk é doutora em Educação Física pela Universidade Federal do Paraná e mestre em Ciências da Saúde pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, onde também concluiu sua graduação em Educação Física – Bacharelado. Especialista em futsal com foco em análise de desempenho, atuou como docente em cursos do ensino superior e analista de desempenho no futebol.

Atualmente, exerce a função de analista de desempenho no Clube Atlético Mineiro, onde trabalha desde agosto de 2024. Antes disso, desempenhou a mesma função na Associação Ferroviária de Esportes entre março e agosto de 2024, atuando em Araraquara, São Paulo.

Além da atuação em clubes, possui experiência acadêmica como docente, tendo lecionado na UniCesumar entre julho e outubro de 2023, em Curitiba, Paraná. Também foi professora na UNIFATEB, onde atuou por quase três anos, de fevereiro de 2021 a outubro de 2023, em Telêmaco Borba, Paraná.

Com forte presença na área de análise de desempenho no futebol, também é CEO da Statisticsfut, onde se dedica ao desenvolvimento de conteúdos e estratégias voltadas à análise estatística e desempenho esportivo.

Nathália Arnosti

Nathália Arnosti é uma profissional de destaque na área de Fisiologia do Esporte e Preparação Física, com sólida formação acadêmica e ampla experiência no futebol brasileiro.

Bacharel e mestre em Educação Física pela Universidade Metodista de Piracicaba e doutora pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), ela construiu uma carreira marcada pela integração entre ciência e prática esportiva.

No cenário dos clubes, já contribuiu com equipes como Athletico Paranaense, Red Bull Bragantino, Palmeiras, Audax, Ferroviária e Ponte Preta. Em janeiro de 2024, assumiu o cargo de fisiologista do Cruzeiro, reforçando seu papel como referência no acompanhamento e otimização do desempenho esportivo.

Rodrigo Aquino

Rodrigo Aquino é professor na Universidade Federal do Espírito Santo, onde atua no Departamento de Desportos e como docente do Programa de Pós-Graduação em Educação Física (Mestrado e Doutorado).

É líder do Grupo de Estudos Pesquisa em Ciências no Futebol (GECIF/UFES) e coordenador do Programa Academia e Futebol (Núcleo UFES), financiado pelo Ministério do Esporte. Seu trabalho envolve a coordenação de projetos técnico-científicos em parceria com categorias de base e equipes profissionais de futebol no Brasil.

Rodrigo é graduado em Educação Física e Esporte pela USP, com especialização em Ciências do Desporto pela Universidade do Porto. Concluiu o mestrado e doutorado em Ciências também pela USP. Acumula experiência prática no futebol desde 2015 como fisiologista e preparador físico em clubes profissionais, além de atuar como treinador e coordenador técnico em categorias de base. Reconhecido academicamente, está entre os 10 cientistas do esporte mais produtivos da América Latina em publicações científicas relacionadas ao futebol.

Neto Pereira

Neto Pereira é um profissional de preparação física e performance esportiva com experiência em clubes do Brasil e do exterior. Atualmente é Preparador Físico no sub-20 do Vasco da Gama.

Trabalhou como Head Performance and Fitness Coach no FC Semey do Cazaquistão (2024). Foi Preparador Físico no Confiança (2023-2024) e Head of Performance and Health no Avaí (2022-2023). Também exerceu o cargo de Coordenador de Performance no Confiança (2022) e trabalhou como Fisiologista no CRB (2021-2022) e no próprio Confiança (2019-2021).

Possui Mestrado em Saúde e Educação Física pela Universidade Federal de Sergipe e Especialização em Desempenho Humano pela Universidade Tiradentes (Unit). Suas principais competências incluem preparação física, análise de desempenho, força, potência e velocidade no esporte.

Rafael Grazioli

Rafael Grazioli, natural de Canoas (RS), é formado em Educação Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde também concluiu mestrado e doutorado em Ciências do Movimento Humano.

Com nove anos de experiência atuando como coordenador científico e fisiologista no futebol profissional, ele passou as últimas três temporadas no Guarani de Campinas (SP) antes de ser anunciado pelo Criciúma em janeiro de 2025.