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Treinamento físico no futebol: uma visão contemporânea e integrada

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Foto de Jeffrey F Lin na Unsplash

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Hoje vamos falar sobre a complexidade do “treinamento físico”, termo muito usado no meio do futebol. Popularmente, ele faz referência às sessões de treino onde o enfoque se dá única e exclusivamente ao desenvolvimento das capacidades físicas do jogador. Desse modo, corridas intervaladas e contínuas, circuitos, tiros e sprints repetidos, são exemplos de exercícios que se encaixam nesse padrão de treino. A ausência ou a pouca presença da bola durante a sessão, é uma característica do denominado treinamento físico. 

O popular treino físico

A parte física do atleta integra mecanismos neuromusculares (força, potência, velocidade, agilidade, coordenação) e metabólicos (resistência aeróbia e anaeróbia). Contudo, é comum alguns atletas atribuírem ao treinamento físico somente aos trabalhos de campo, isto é, os exercícios isolados com foco no desenvolvimento da resistência. Na linguagem popular do futebol, o treino físico se refere àquela sessão onde o atleta vai suar a camisa e se desgastar ao máximo em corridas, tiros ou circuitos. Além disso, muitas vezes ele também é chamado apenas de “físico” e costuma não agradar muito a maioria dos atletas. No treinamento de força e suas manifestações (que também fazem parte do componente físico do atleta), os boleiros adotam a nomenclatura “treino na academia” ou “musculação”.

Especificidade do treinamento físico

A abordagem descrita até então, que separa as capacidades físicas dos componentes técnico e tático, denomina-se “analítica”. Portanto, podemos considerar que o treinamento físico descrito acima é uma sessão de treino analítico que visa desenvolver de forma separada somente o componente físico do atleta. Quando se trata do objetivo citado, o procedimento em discussão gera excelentes resultados. Treinar corridas intervaladas ou circuitos específicos com as variáveis bem manipuladas são excelentes métodos para desenvolver a aptidão cardiorrespiratória por exemplo. Porém, devemos observar o treinamento a partir de uma outra perspectiva: a especificidade.

A especificidade é uma teoria do treinamento desportivo. Ela nos diz que o treinamento deve respeitar ao máximo a demanda da competição/jogo para que as adaptações sejam favoráveis e específicas. Assim sendo, integrar a parte física das demais exigências do jogo (parte técnica, tática e psicológica) é de suma importância para desenvolver o atleta como um todo. Num único exercício, podemos abordar as capacidades físicas em foco com situações técnicas e táticas determinadas pelo modelo de jogo do treinador. Recomendo a leitura de artigos e livros do mestre Antônio Carlos Gomes para maior aprofundamento no tema.

Físico+ técnico+ tático

O objetivo em relação a parte física é tornar o jogador um atleta robusto. Com todas as capacidades físicas necessárias desenvolvidas em um estado ótimo, para que o jogador suporte as necessidades do jogo e não se lesione. Para isso, quanto mais específico, melhor.

Uma grande mudança de pensamento dos últimos anos em relação ao treinamento físico é a ideia de que treinamento técnico-tático também exige uma demanda física. O atleta se movimenta, trota, realiza sprints, acelera, desacelera, salta… Portanto, existem muitos componentes físicos dentro de um exercício desse caráter.

Nessa perspectiva, conseguimos aproximar a preparação física da preparação técnico-tática desejada pelo treinador. Assim , manipular e monitorar as ações físicas que ocorrem dentro de um treinamento técnico-tático, considerando o objetivo do exercício e o momento da temporada, também fazem dele um treinamento físico!

Treinamento físico na pré-temporada

A pré-temporada é o período onde o enfoque físico é maior. Nela, por mais que curta, deve-se preparar o atleta fisicamente para suportar as necessidades das sequencias de jogos da temporada. Atualmente, devido ao calendário, os clubes grandes possuem em média 3 semanas de pré-temporada e cerca de 45 semanas de período competitivo. Isto é, a desproporcionalidade é enorme, o tempo de preparação e de descanso entre jogos é mínimo. Não há tempo para trabalhar e muitos profissionais envolvidos ao futebol culpam esse fato pela decadência técnica do nosso futebol

Jogos reduzidos como treinamento

Os jogos reduzidos aparecem como uma estratégia interessante para essa abordagem integrada do treino. Neles, o treinador pode implantar as regras que quiser para potencializar alguma ação tática ou técnica da equipe. Ao mesmo tempo, o preparador físico pode alterar a dimensão do campo, o tempo de duração e o número de atletas participantes para atingir a demanda e as ações físicas específicas da sessão. Pesquisadores portugueses em um estudo de 2014 descrevem bem como as diferentes variáveis estruturais podem interferir nas respostas físicas dos jogos reduzidos.

Então descontextualizar o treinamento físico é errado?

A resposta para essa pergunta é não! O método escolhido para guiar as sessões de treino depende de muitos fatores. Momento da temporada/periodização, características do elenco, estrutura do clube e percepções da comissão técnica são alguns exemplos. Desde que as metas sejam bem claras e o planejamento seja coerente, nada impede uma comissão de trabalhar com o treinamento físico isolado.

Complemento pós-treino

Atualmente o complemento pós-treino é o que mais se assemelha ao popular “físico” temido pelos atletas. Jogadores que durante um treinamento integrado não se movimentaram de acordo com o esperado e não atingiram os níveis de carga física programada para a sessão, são submetidos a complementos que envolvem quase sempre exercícios analíticos, como corridas intervaladas. Portanto, é importante lembrar que a carga física da sessão depende do momento da periodização e dos objetivos pré-estabelecidos.

Treinamento de força

Em relação ao treinamento de força, a ideia é a mesma. Para a prescrição do treino, inicialmente é necessário considerar os movimentos que o atleta realiza durante o jogo. Com isso conseguimos enfatizar exercícios que se assemelhem com a mecânica dessas ações competitivas. Considerar as demandas também é indispensável. Sabemos que as ações em alta velocidade, sprint máximo ou saltos, são as ações decisivas. Ou seja, as ações que decidem uma jogada envolvem  potência, velocidade e agilidade, essa seria a força especifica ou especial do futebol.

Planejamento

Não existe melhor ou pior método. Existe o método que melhor se encaixa na sua realidade. As pesquisas recentes nos mostram um leque amplo de opções que auxiliam na evolução completa do atleta. Cabe a cada comissão analisar as possibilidades e necessidades da sua realidade e planejar. Por fim, independente da abordagem, estruturar coerentemente o programa de treino seguindo as teorias do treinamento desportivo é a chave.

Contato do autor: @prof.amstalden – ra.junior@hotmail.com

Veja abaixo um episódio em nosso Podcast sobre o assunto:

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