Recentemente classificada às semifinais da Eurocopa em jogo vencido por 2×1 sobre a anfitriã da competição Alemanha, a Espanha tem chamado a atenção por motivos que vão além do futebol apresentado até agora pela jovem geração da La Roja. Desde o início dos confrontos, a seleção tem optado por um método de tratamento curioso, que virou notícia pelo seu aspecto futurista e pela semelhança às cápsulas de recuperação da cultura pop, como as do anime Dragon Ball e do filme Elysium.
Médica do esporte explica como a tecnologia contribui para a recuperação e tratamento dos atletas
Em um torneio curto e intenso, a tecnologia utilizada pelos espanhois acelera o processo de regeneração após a fadiga decorrente das partidas. A primeira fase do método é realizada em uma câmara hiperbárica, um equipamento cada vez mais comum no universo do futebol. Médica com mais de 20 anos de experiência no futebol, a Dra. Flávia Magalhães detalha como a recuperação dos atletas é potencializada por esse artifício.
“As câmaras que os jogadores da Eurocopa estão utilizando oferecem oxigênio puro ao atleta, com uma pressão maior que a atmosférica. Isso faz com que mais oxigênio esteja disponível no plasma sanguíneo, chegando aos músculos. O oxigênio ligado à hemoglobina é dissolvido no plasma sanguíneo, segue em direção aos tecidos e passa para o líquido intersticial por difusão. Em outras palavras, a maior concentração de oxigênio no sangue faz com que ele passe para onde há menor concentração, no líquido intersticial, sendo então absorvido pelos capilares para o interior das células musculares. No processo bioquímico subsequente, o oxigênio é utilizado para a produção de ATP, essencial para a contração muscular. A câmara hiperbárica, portanto, potencializa este processo”, explica a médica.
Depois de sair da cápsula, os jogadores passam por outras duas fases. Para isso, são usadas a Fototerapia e a Crioterapia. A primeira, consiste no uso da luz para ajudar na recuperação das células. “O mecanismo da fototerapia é penetrar nos tecidos, com a absorção da luz pela mitocôndria, ativando os citocromos, aumentando a atividade da Citocromo C Oxidase (Cox), melhorando a eficiência da produção de ATP e também a recuperação celular. A exposição luz aumenta a liberação de óxido nítrico, que é um potente vasodilatador, aumentando o fluxo local. Além disso, a luz pode alterar a excitabilidade neuronal, reduzindo a percepção de dor”, detalha Flávia.
A segunda, por sua vez, consiste na aplicação de temperaturas baixas para acelerar na redução da inflamação, alívio da dor, recuperação muscular e cicatrização de lesões. “Já a crioterapia tem funções distintas e gera controvérsias no mundo do esporte. Logo após uma lesão, ela tem potencial efeito na redução do dano tecidual, diminuindo a liberação de mediadores inflamatórios, como prostaglandinas e citocinas pró-inflamatórias, e, assim, reduzindo a necrose tecidual e o edema. Também auxilia nas alterações nociceptivas, reduzindo a velocidade de condução dos sinais nervosos e diminuindo a percepção da dor”, exemplifica Flávia.
Método inovador?
Diferente do que muitos pensam, principalmente pela aparência futurista dos aparelhos utilizados pela Espanha, a câmara hiperbárica, a fototerapia e a crioterapia não são tecnologias tão recentes. Segundo a médica, estes tratamentos já são utilizados há muito tempo, estando presentes também fora do esporte, atuando em diversos casos na medicina moderna.
“Todos estes tratamentos já são utilizados há muito tempo. Conforme a Sociedade Brasileira de Medicina Hiperbárica enfatiza, esses tratamentos estão envolvidos em pacientes com infecções graves, embolia gasosa e feridas de difícil cicatrização. Já a fototerapia é mais utilizada na dermatologia para tratamentos de vitiligo, psoríase … Também é comum a exposição de recém-nascidos com icterícia neonatal. As luzes de baixa intensidade estão disponíveis no tratamento da inflamação, para regeneração celular e cicatrização de feridas. E na fisioterapia temos lasers de baixa potência para alívio de dores, melhora da circulação local”, finaliza Flávia.