O futebol é esporte que exige várias capacidades dos jogadores, nas quais se destacam: a técnica, boa compreensão tática, bom controle psicológico e, claro, uma excelente preparação física.
Ao falar de preparação física, devemos compreender que as demandas físicas e fisiológicas dos jogadores em uma partida possuem muitas variações, dessa forma, o jogo se configura por uma atividade física intermitente. Ou seja, a energia (ATP) para a realização das ações derivam de diferentes fontes energéticas durante o jogo. Portanto, a quantidade de atividades de cunho aeróbio e anaeróbio trazem um parâmetro importante para a caracterização da demanda fisiológica do jogo.
A relação entre as demandas físicas e fisiológicas no futebol
A demanda fisiológica representa uma medida de faixa de trabalho dos jogadores de futebol; conforme a relação volume x intensidade dos movimentos executados pelos atletas durante o jogo / treino.
Desse modo, o perfil da demanda física de cada atleta pode ser utilizado como indicativo do percentual de contribuição dos três sistemas energéticos durante a partida. Conforme alguns estudos, notou-se que um atleta percorre em média 10 km durante os 90 minutos de uma partida de futebol. Ou seja, estas informações apontam para uma predominância do sistema energético aeróbio sobre o desempenho físico.
Por outro lado, nos últimos anos houve um aumento significativo nas ações realizadas em alta intensidade pelos futebolistas durante os jogos, onde, os mesmos, chegam a alcançar uma velocidade de 32 km/h. Portanto, isto nos leva a pensar que o aumento das ações intensas vem se tornando um diferencial na preparação física e desempenho das equipes.
Neste sentido, a relação entre atividades de alta e baixa intensidade é, cerca de, 1 para 7. Ou seja, a cada 4 segundos em alta intensidade (anaeróbio) é gasto 28 segundos em atividades aeróbias. Além disso, é importante ressaltar que além das características biológicas, fatores como posições diferentes (figura 1), nível competitivo (figura 2), modelo de jogo, fadiga e o estado nutricional, também exercem influência sobre a demanda física dos futebolistas.
Da teoria à prática. Como as demandas físicas e fisiológicas se manifestam durante a partida?
Primeiramente, sabemos que a demanda física de um atleta profissional de futebol é muito alta, atingindo um volume de até 14 km percorridos por jogo, tendo sua maior parte percorrida durante o primeiro tempo. Assim sendo, podemos fazer a relação volume x intensidade da seguinte forma:
- 22% – 24% da distância total percorrida em velocidade >15 km/h;
- 8% – 9% >20 km/h;
- 2% – 3% >25 km/h.
Por outro lado, há estudos que trazem a relação entre volume x intensidade considerando o tempo, indicando que o atleta tem a seguinte demanda física durante os 90 minutos:
- 17,1% do tempo parados;
- 40,4% andando;
- 35% correndo em baixa intensidade;
- 8,1% do tempo correndo em alta intensidade e sprints.
Além disso, o atleta realiza cerca de 1.400 mudanças de atividades e 700 mudanças de direção por partida, uma média de 40 ações superiores a 21 km/h e 600 acelerações e desacelerações por jogo.
Nesse sentido, ocorre a realização de diferentes movimentos nas mais variadas intensidades (figura 3), no qual a frequência cardíaca (FC) média é de 75% a 85% da máxima, algo em torno de 160 – 175 bpm. Assim, com um percentual de 75% do seu VO₂ máx., podem ser queimadas mais de 1.500 kcal no decorrer da partida. Deste modo, solicitando altas demandas fisiológicas e energéticas aos atletas para superar os desafios impostos a eles durante o jogo.
Contribuição aeróbia, anaeróbia e a relação com o jogo.
A função de todos os sistemas são formar ATP’s para a contração muscular e, como pode ser notado pelos dados apresentados acima, as demandas físicas e fisiológicas no futebol consistem em um nível submáximo e máximo, no qual há um forte recrutamento do sistema aeróbio durante a partida. Dessa forma, cerca de 88% do tempo é utilizado o sistema aeróbico como a principal fonte de fornecimento energético, com os outros 12% ficando por conta do sistema anaeróbio.
Em contrapartida, sabemos que os lances decisivos são derivados de ações intensas, conexos as capacidades físicas de força, potência e velocidade. Nesse sentido, estudos mostraram que jogadores de elite se exercitam em uma intensidade maior do que jogadores de divisões inferiores. Contudo, isso nos leva a fazer uma relação direta entre a intensidade e qualidade do jogo (figura 4).
Notamos então que, apesar de haver uma demanda energética aeróbia maior, não se pode indicar qual via é mais importante. Ou seja, é necessário o atleta estar apto a realizar as demandas físicas solicitadas durante a partida.
Sendo assim, cabe as comissões técnicas traçarem estratégias para, durante os treinamentos, potencializarem o desempenho global dos seus atletas, considerando todas as suas dimensões e fatores que possam influenciar neste processo (figura 5).
Fontes e Referências:
https://www.scielo.br/j/rbce/a/DLcfSG5TBqCswV6LBr8DRsF/?lang=pt
https://europepmc.org/article/med/8059610
Contato do autor:
Instagram: endrigo_f
Email: endrigof1@gmail.com
Confira abaixo um episódio do Podcast sobre o assunto:
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