Processo de recuperação pós-jogo

Por: Felipe Rodrigues e Matheus Padilha

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Foto por RF._.studio/Pexels

O que é recovery?

O futebol é um esporte que exige dos atletas, demandas físicas, fisiológicas e psicológicas muito altas. A elevada intensidade durante os jogos, aliada a um calendário competitivo e muito congestionado, leva os atletas a entrarem em processo de fadiga. Porém, estratégias para minimizar a fadiga, podem fornecer uma importante vantagem competitiva em relação aos adversários. Uma dessas estratégias é o recovery, que promove uma melhor e mais rápida recuperação pós-jogo.

O recovery é caracterizado, basicamente, por processos restaurativos que proporcionam uma recuperação musculoesquelética ou, até mesmo, recuperação psicológica. A recuperação depende do índice de estresse ao qual cada atleta é submetido e, também, ao perfil de personalidade.

Os modelos de recovery mais comuns são os passivos e ativos. Os modelos passivos são caracterizados por métodos externos, tais como massagens, alongamentos, crioterapia ou até a implementação de um estado completo de repouso. Já os modelos ativos, englobam atividades físicas de média e baixa intensidade executadas por um período curto de tempo, por exemplo: caminhadas ou trotes, jogos reduzidos, atividades na sala de musculação, entre outros.

Recuperação ativa e passiva

Geralmente, os estudos sobre a recuperação pós-jogo, ressaltam a eficiência da recuperação ativa em relação à passiva. Ademais, vejamos o estudo de liderado pelo pesquisador Grassi da Universidade Federal de Goiás, em que foi comparado três diferentes métodos de recuperação:

  • Passiva (RP): estado completo de repouso;
  • Banheira de gelo: 7 minutos a 14 graus;
  • Ativa (RA): trote com intensidade de 50% a 65% da frequência cardíaca máxima.

O estudo mostrou que a recuperação ativa apresentou uma diminuição da concentração de lactato sanguíneo relevante quando comparada com as demais alternativas, principalmente em relação à recuperação passiva. Portanto, podemos interpretar a diminuição da concentração de lactato na corrente sanguínea como uma redução da lesão tecidual, ou seja, uma melhor recuperação do músculo.

Da mesma forma, outro estudo realizado em 2013 liderado pelo pesquisador brasileiro Luís Inácio Silva, 20 atletas de futebol foram submetidos a um teste de 9 minutos e divididos em dois grupos: recuperação ativa (RA) e recuperação passiva (RP).

A concentração de lactato foi medida no início do teste, no final do teste, 5, 10 e 15 minutos após o término do teste. Os resultados foram compatíveis com o do estudo citado anteriormente. Para melhor ilustrar, podemos ver no gráfico que a recuperação ativa representada pela cor azul apresentou uma queda significante da concentração de lactato sanguíneo quando comparada com a passiva, principalmente no minuto 15 (Lac15), após o término do teste, passando de 4,10 mmol/L para 2,45 mmol/L.

Desta forma, a curva regressiva apresentada pela recuperação ativa continuaria no decorrer do dia, trazendo benefícios para a próxima sessão de treinamento e fazendo com que os atletas cheguem em melhores condições físicas para a realização de suas atividades.

Tipos de Recuperação ativa

Como percebemos até o momento, a recuperação ativa parece apresentar uma abordagem mais assertiva, o que mostra ser mais eficiente para a recuperação pós-jogo. Assim, dois protocolos de recuperação ativa pós esforço são comumente utilizados. Um de maior grau de especificidade com o futebol; e outro com menor especificidade.

  • Treino composto por jogos reduzidos de baixa intensidade; (maior grau de especificidade)
  • Treino composto por sessões de corridas com baixa intensidade, alongamentos e relaxamento muscular; (menor grau de especificidade).

O interessante é que ambos os protocolos apresentam melhoras no desempenho físico dos atletas, sendo, os treinos de sessões de corrida com baixa intensidade, alongamentos e relaxamento muscular; parecerem mais eficientes que o treino composto por jogos reduzidos de baixa intensidade.

Dessa forma, podemos considerar que a especificidade poderia indicar uma forte relação entre o desempenho físico e questões psicológicas. Treinos mais específicos (em formato de jogo, por exemplo) exigiriam maior concentração mental e física do atleta já fadigado em razão da partida anterior, o que poderia retardar a recuperação plena dos atletas pós-partida.

Relação entre fatores físicos e psicológicos

Sabemos que diversos fatores podem ser estressores para os atletas, por exemplo: as viagens mais longas; a privação de sono, que pode ocorrer em função dos deslocamentos; problemas pessoais ou com o grupo; dentre outros. Todas essas situações podem elevar o nível de estresse e gerar consequências fisiológicas que prejudicam a recuperação.

Do mesmo modo, a fadiga mental se configura como uma determinante importante para a tomada de decisão. Isso ocorre porque a tomada de decisão de uma pessoa é limitada. Durante um jogo de futebol, o atleta toma em média mais de duas mil decisões. Além disso, segundo a literatura científica sobre as funções cognitivas, a cada decisão tomada, ocorre uma fadiga que prejudica as decisões seguintes.

Com a tomada de decisão prejudicada pela fadiga mental, o desempenho do jogador tende a diminuir. Simultaneamente, o mau desempenho tende a configurar um maior nível de estresse, acarretando outros problemas que podem se manifestar até mesmo fisicamente. Portanto, a fadiga mental pode criar um ciclo de condições ruins que afetam diretamente a capacidade de resposta física e mental do atleta.

O bem-estar e a fadiga mental na recuperação pós-jogo

Estudos na área apresentam uma relação linear entre a fadiga e bem-estar, isto é, quanto menores os níveis de bem-estar, menor é o rendimento físico dos atletas.

Diante disso, é de suma importância reduzir as cargas de cobrança psicológica após a partida, optando por métodos de treinamentos que não exijam um grande número de tomada de decisões dos atletas. Assim, alinhando fatores físicos e psicológicos, de modo a acelerar a remoção de substâncias inflamatórias, e permitindo uma melhor recuperação dos níveis fisiológicos por parte dos atletas.

Desse modo, promoveremos uma recuperação adequada, para que o atleta esteja em plenas condições para sessões de treinamentos subsequentes, e também para a próxima partida.

Em resumo, percebemos uma grande vantagem no método de recuperação ativa, a qual podemos concluir que ajuda a acelerar o processo de recuperação dos atletas. Ainda nesse sentido, trabalhos com menor grau de especificidade demostraram ser uma boa alternativa para a montagem de sessões de treinamento com o objetivo de recuperação fisiológica e psicológica dos futebolistas.

Cada atleta lida de maneira peculiar com as diversas situações envolvendo fatores psicológicos, indicando a necessidade de um acompanhamento para que essas situações não acarretem mais problemas ao jogador e ao time.

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