O estilo de liderança dos técnicos de futebol

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Foto de Manuel Navarro na Unsplash

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No futebol são bem visíveis as diferenças entre os trabalhos dos treinadores. Para além das variações táticas e de modelo de jogo, existe um ponto extremamente importante: o estilo de liderança. Em outras palavras, a forma e o estilo de liderança dos técnicos de futebol e como ele lidera, pode influenciar diretamente no rendimento da equipe.

Enquanto alguns técnicos de futebol são mais tidos como “linha-dura”, outros são comumente chamados de “paizão”. Sendo assim, como colocar isso em termos de liderança?

O que é Liderança?

Liderança é “o processo pelo qual um indivíduo influencia um grupo de indivíduos para o alcance de uma meta comum”. Nesse sentido, cada técnico de futebol influencia seu grupo de atletas à sua maneira. Seja um treinador como Tiago Nunes, conhecido por sua forte cobrança sobre os atletas ou Fernando Diniz, conhecido por ter uma relação próxima com jogadores.

Atualmente existem algumas teorias distintas sobre a liderança. De maneira didática, podemos falar do estilo: autocrático e seus derivados, além do estilo democrático e suas variantes. Treinadores autocráticos tendem a resolver problemas de maneira individual, enquanto treinadores democráticos ou consultivos tendem a consultar o grupo no processo de tomada de decisão. Vale ressaltar que, embora existam essas divisões didáticas, um treinador não precisa agir inteiramente de uma maneira ou de outra.

Um estudo publicado em 2009 analisou o perfil de liderança dos treinadores das categorias de base do futebol brasileiro. Esse estudo concluiu que os treinadores participantes se percebiam mais autocráticos e mais preocupados com o aspecto de treino-instrução de suas equipes. Conforme esse estudo, já se percebe que, desde a base os treinadores costumam apresentar um estilo de liderança similar.

Habilidades de liderança dos técnicos de futebol

Novos técnicos de futebol surgiram nos últimos anos, sobretudo após o vexame da Copa do Mundo de 2014. Curiosamente, um dos personagens dessa renovação de técnicos de futebol é Fernando Diniz. Relativamente inovador em alguns conceitos táticos no futebol brasileiro, Diniz formou-se em Psicologia e falou justamente sobre liderança em seu TCC. Em suas palavras, “O técnico de futebol é o líder e é ele quem determina o destino do grupo. A característica mais importante que não pode faltar nesse profissional é a credibilidade, sendo que possuir tal qualidade não implica em ser um líder. Mas para liderar é essencial ter credibilidade”.

Além do mais, Diniz afirmou ainda que “liderar uma equipe de futebol é uma tarefa que exige, de seu comandante, postura e sensibilidade. Existem características em um líder que são importantes, como carisma, mas não é o que determina se este líder fará com que seus liderados o sigam…. É fundamental ao técnico: conhecer as pessoas e sua natureza humana; obter um relacionamento interpessoal com uma boa comunicação; liderança; motivação; conhecimento dos atletas e suas necessidades, que serão seus aprendizes diretos”.

Liderança, motivação e comunicação estão sempre relacionadas no esporte.  A maneira como se lida com um grupo reflete diretamente no desempenho da equipe em campo. Portanto, técnicos de futebol devem desenvolver algumas habilidades psicológicas básicas, além de buscar conhecimento na área. Isso porque, além de funções técnicas, o técnico de futebol também pode ser, analogamente, professor, motivador, juiz, administrador, relações públicas, conselheiro, amigo, “pai”, político, etc. E isso pode ser observado, sobretudo na realidade do futebol brasileiro, onde há poucos profissionais de áreas menos ligadas diretamente ao campo de jogo.

Então, qual é o melhor estilo de liderança no futebol?

Assim como não existe o melhor modelo de jogo ou a melhor estratégia, não existe certo ou errado absoluto quando se trata de estilo de liderança dos técnicos de futebol. A eficácia do estilo de liderança de um treinador deriva de sua adaptação à situação. De acordo com o contexto um ou outro tipo de liderança será mais adequado. A verdadeira liderança no esporte depende das qualidades do líder (o treinador, no caso), do seu estilo de liderança, dos fatores situacionais e das características dos seguidores (os jogadores). Contudo, é a forma como esses quatro fatores interagem que realmente determina o que torna um líder mais eficiente.

Fontes e Referências:

  • Liderazgo en juego: dentro y fuera del campo” de Claudia Alicia Rivas e Alejandra Florean.
  • Leadership: theory and practice” de Peter G. Northouse.
  • Análise do perfil de liderança dos treinadores das categorias de base do futebol brasileiro” de Israel Teoldo, Dietmar Samulski e Varley Teoldo.

Autor: Matheus Padilha Abrantes Reis
matheuspadilhaar@gmail.com
@28padilha

Confira um episódio do Podcast Ciência da Bola que fala sobre o assunto:

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João Bonfatti

João Bonfatti atualmente trabalha como Coordenador do setor de Análise de Desempenho no América-MG. Antes disso, teve passagens pelo Vasco da Gama, onde atuou em diferentes categorias: foi auxiliar técnico do Sub-20, treinador interino do Sub-17 e auxiliar técnico do Sub-17.

Atuou também pelo Atlético-MG, onde desempenhou o papel de auxiliar técnico do Sub-15. No Corinthians, auxiliar técnico do Sub-14, além de exercer a função de supervisor metodológico.

Sua formação inclui o Bacharelado em Futebol pela Universidade Federal de Viçosa e a Licença B da CBF Academy, o que reforça sua base teórica e prática no desenvolvimento de atletas.

Felipe Bonholi

Felipe Bonholi integra a equipe do Palmeiras como Analista de Desempenho no Centro de Formação de Atletas (CFA), contribuindo para o desenvolvimento e acompanhamento de jovens talentos.

Antes disso, acumulou cinco anos de experiência na Ferroviária, onde atuou como Analista de Desempenho da equipe profissional, e no São Carlos Futebol Clube na mesma função.

Sua formação acadêmica inclui Bacharelado em Administração de Empresas pela UNIARA (2014–2017) e graduação em andamento em Educação Física pela mesma instituição, iniciada em 2019.

Com sólida base teórica e ampla experiência prática, Felipe Bonholi se destaca por sua capacidade de integrar análise técnica, gestão e visão estratégica no contexto esportivo, contribuindo para o desempenho e evolução de atletas e equipes.

Mylena Baransk

Mylena Baransk é doutora em Educação Física pela Universidade Federal do Paraná e mestre em Ciências da Saúde pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, onde também concluiu sua graduação em Educação Física – Bacharelado. Especialista em futsal com foco em análise de desempenho, atuou como docente em cursos do ensino superior e analista de desempenho no futebol.

Atualmente, exerce a função de analista de desempenho no Clube Atlético Mineiro, onde trabalha desde agosto de 2024. Antes disso, desempenhou a mesma função na Associação Ferroviária de Esportes entre março e agosto de 2024, atuando em Araraquara, São Paulo.

Além da atuação em clubes, possui experiência acadêmica como docente, tendo lecionado na UniCesumar entre julho e outubro de 2023, em Curitiba, Paraná. Também foi professora na UNIFATEB, onde atuou por quase três anos, de fevereiro de 2021 a outubro de 2023, em Telêmaco Borba, Paraná.

Com forte presença na área de análise de desempenho no futebol, também é CEO da Statisticsfut, onde se dedica ao desenvolvimento de conteúdos e estratégias voltadas à análise estatística e desempenho esportivo.

Nathália Arnosti

Nathália Arnosti é uma profissional de destaque na área de Fisiologia do Esporte e Preparação Física, com sólida formação acadêmica e ampla experiência no futebol brasileiro.

Bacharel e mestre em Educação Física pela Universidade Metodista de Piracicaba e doutora pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), ela construiu uma carreira marcada pela integração entre ciência e prática esportiva.

No cenário dos clubes, já contribuiu com equipes como Athletico Paranaense, Red Bull Bragantino, Palmeiras, Audax, Ferroviária e Ponte Preta. Em janeiro de 2024, assumiu o cargo de fisiologista do Cruzeiro, reforçando seu papel como referência no acompanhamento e otimização do desempenho esportivo.

Rodrigo Aquino

Rodrigo Aquino é professor na Universidade Federal do Espírito Santo, onde atua no Departamento de Desportos e como docente do Programa de Pós-Graduação em Educação Física (Mestrado e Doutorado).

É líder do Grupo de Estudos Pesquisa em Ciências no Futebol (GECIF/UFES) e coordenador do Programa Academia e Futebol (Núcleo UFES), financiado pelo Ministério do Esporte. Seu trabalho envolve a coordenação de projetos técnico-científicos em parceria com categorias de base e equipes profissionais de futebol no Brasil.

Rodrigo é graduado em Educação Física e Esporte pela USP, com especialização em Ciências do Desporto pela Universidade do Porto. Concluiu o mestrado e doutorado em Ciências também pela USP. Acumula experiência prática no futebol desde 2015 como fisiologista e preparador físico em clubes profissionais, além de atuar como treinador e coordenador técnico em categorias de base. Reconhecido academicamente, está entre os 10 cientistas do esporte mais produtivos da América Latina em publicações científicas relacionadas ao futebol.

Neto Pereira

Neto Pereira é um profissional de preparação física e performance esportiva com experiência em clubes do Brasil e do exterior. Atualmente é Preparador Físico no sub-20 do Vasco da Gama.

Trabalhou como Head Performance and Fitness Coach no FC Semey do Cazaquistão (2024). Foi Preparador Físico no Confiança (2023-2024) e Head of Performance and Health no Avaí (2022-2023). Também exerceu o cargo de Coordenador de Performance no Confiança (2022) e trabalhou como Fisiologista no CRB (2021-2022) e no próprio Confiança (2019-2021).

Possui Mestrado em Saúde e Educação Física pela Universidade Federal de Sergipe e Especialização em Desempenho Humano pela Universidade Tiradentes (Unit). Suas principais competências incluem preparação física, análise de desempenho, força, potência e velocidade no esporte.

Rafael Grazioli

Rafael Grazioli, natural de Canoas (RS), é formado em Educação Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde também concluiu mestrado e doutorado em Ciências do Movimento Humano.

Com nove anos de experiência atuando como coordenador científico e fisiologista no futebol profissional, ele passou as últimas três temporadas no Guarani de Campinas (SP) antes de ser anunciado pelo Criciúma em janeiro de 2025.