Como visto no texto anterior sobre as demandas físicas e fisiológicas, o jogo de futebol vem se tornando mais intenso com o passar dos anos, requerendo um melhor desempenho físico dos jogadores. Nesse sentido, um estudo realizado por pesquisadores europeus em 2015, aponta um crescimento de 30% a 50% nas ações de alta intensidade entre as temporadas 2006-2007 e 2012-2013 da Premier Legue.
Contudo, devemos compreender a natureza complexa e dinâmica do futebol, ou seja, as vertentes do jogo (técnica, tática, física e psicológica) estão correlacionadas e devem ser analisadas de uma forma sistêmica. Portanto, alguns fatores como a velocidade, distância percorrida e manutenção da posse de bola são relevantes para entendermos a intensidade e desempenho físico no futebol.
Desempenho físico no futebol: o impacto da posse de bola
Primeiramente, sabemos que ter somente a posse de bola não demonstra o modelo de jogo de uma equipe. Entretanto, jogar com ou sem a posse de bola faz parte da ideia de jogo do treinador e do modelo de jogo do clube. De modo geral, em uma visão sistêmica, estudos demonstraram que a posse de bola tem uma relação importante nas variáveis físicas e técnicas dos jogadores.
Um estudo publicado em 2019, ao analisar jogos da copa do mundo de 2018, por exemplo, concluiu que as seleções caracterizadas com jogo de maior posse de bola apresentaram maiores distâncias percorridas em alta intensidade e sprints, em comparação às seleções caracterizadas com jogo direto (menos posse de bola). Indicando, deste modo, uma relação entre fatores táticos e físicos, mais especificamente entre o percentual de posse de bola e a demanda física.
Em outros estudos, equipes com maior posse de bola percorreram maior distância em alta intensidade na fase ofensiva. Em contrapartida, as equipes que apresentam um jogo “reativo” percorrem maiores distâncias em alta intensidade quando se encontram em fase defensiva. Veja os dados na figura abaixo.
Assim, percebemos pelo gráfico que a distância total, distância em baixa velocidade (low speed), distância em média velocidade (medium speed) e distância em alta velocidade (high speed) não sofreram grandes alterações decorrentes do fator de posse ou não da bola. Todavia, as equipes com maior porcentagem de posse de bola (barras pretas), percorreram uma maior distância quando de posse da bola (WP). O contrário acontece com as equipes com menor percentual de posse de bola (barras brancas/WOP).
Posição e desempenho físico
Conforme vimos até aqui, a manutenção ou não da posse de bola pode influenciar as demandas físicas e fisiológicas dos jogadores. Assim, essa diferença, talvez seja em consequência, principalmente, das distintas posições e funções táticas exercidas pelos jogadores em campo.
Dessa forma, para entendermos melhor como os indicadores físicos por posição são influenciados pela posse ou não da bola, os estudos que citamos também mostraram dados interessantes. Foi constatado, por exemplo, que meio-campistas e atacantes apresentam uma demanda física maior quando a equipe joga com menos posse de bola. Esse resultado provavelmente ocorre pelo fato deles precisarem fechar espaços e pressionar opositores, de modo a recuperar a bola.
Por outro lado, um efeito contrário foi encontrado nos zagueiros. Nos zagueiros foi identificado uma maior porcentagem de corridas de alta intensidade nas equipes com maior posse de bola durante a fase ofensiva, pois há uma tendência destes jogadores permanecerem mais parte do tempo ocupando a metade ofensiva do campo, auxiliando na circulação da bola, conforme consta o gráfico na figura abaixo.
A imagem acima mostra o percentual do tempo gasto dos zagueiros na metade ofensiva do campo de jogo. Desta forma, fica nítido perceber que os zagueiros pertencentes as equipes com maior posse de bola (barras pretas) se dispõem no campo ofensivo durante grande parte do tempo de jogo. Em outras palavras, há uma tendência destes jogadores executarem uma maior porcentagem de ações de alta intensidade em equipes com maior percentual de posse de bola.
Posse da bola x demanda física
Portanto, os estudos aparentam uma congruência, indicando que equipes com maior percentual de posse de bola executam maiores números de ações de alta intensidade, quando de posse da mesma. Além disso, mostram uma forte relação entre diferentes posições x estilos de jogo e a demanda física.
Entretanto, a ênfase ou não na posse de bola não parece influenciar significativamente nas demandas físicas gerais das equipes. Deste modo, fica a sugestão para mais trabalhos neste sentido, analisando a natureza complexa e dinâmica do futebol, a fim de procurarmos entender melhor como as vertentes se correlacionam e influenciam na performance durante o jogo.
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Fontes e Referências
https://www.tandfonline.com/doi/full/10.1080/02640414.2013.786185
https://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/02640414.2015.1114660
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