Um estudo científico realizado por pesquisadores brasileiros liderado por Eduardo Mendonça Pimenta da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), investigou a relação entre um gene específico, o TTN-AS1 (rs1001238), e a resposta inflamatória muscular em jogadores de futebol de base.
O artigo intitulado “TTN-AS1 Genotype (rs1001238) and its Influence on Inflammatory Responses in Muscle Tissues in Soccer Players“ foi publicado na revista científica Brazilian Archives of Biology and Technology, e buscou entender como variações genéticas podem influenciar a recuperação após treinos intensos.
Objetivos do estudo
O estudo teve como premissa que a recuperação muscular é crucial para o desempenho e a prevenção de lesões em atletas. Sabe-se que a inflamação faz parte do processo de reparo das células, mas respostas inflamatórias exacerbadas ou prolongadas podem ser prejudiciais.
A hipótese do estudo era de que variações no gene TTN-AS1, que codifica a proteína titina (que é essencial para a estrutura e função muscular), poderiam modular a intensidade e a duração dessa inflamação. A titina, é uma proteína gigante presente nos sarcômeros (unidades contráteis do músculo), responsável pela elasticidade e estabilidade muscular, e suas variações genéticas podem impactar a resposta do músculo a esforços.
Como o estudo foi realizado?
Foram selecionados 46 jogadores de futebol masculino sub-20 de clubes da primeira divisão brasileira. Os atletas passaram por uma avaliação física completa, incluindo a medição do VO2 máximo (capacidade cardiorrespiratória).
O DNA dos jogadores foi analisado para identificar as variações genéticas (genótipos) do gene TTN-AS1 (CC, TC e TT). Em seguida, os jogadores realizaram uma sessão de treino intenso com exercícios que simulavam situações de jogo, incluindo saltos, mudanças de direção e acelerações/desacelerações.
Amostras de sangue foram coletadas antes, 24 e 48 horas após o treino para medir marcadores de inflamação (como proteína C reativa – CRP, fator de necrose tumoral alfa – TNFα e fator de crescimento semelhante à insulina tipo 1 – IGF-1) e de dano muscular (creatina quinase – CK), além da contagem de neutrófilos (células de defesa).
Principais resultados
O estudo revelou que jogadores com o genótipo CC apresentaram níveis significativamente mais altos de CK e CRP 48 horas após o treino, indicando maior dano muscular e inflamação prolongada, em comparação com aqueles com genótipos TC e TT.
Além disso, os atletas com genótipo CC mostraram maior atividade de neutrófilos (células do sistema imunológico), sugerindo uma resposta inflamatória mais intensa.
Curiosamente, os indivíduos com genótipos TT e TC apresentaram concentrações mais altas de IGF-1 (hormônio importante na reparação muscular) 24 horas após o exercício, indicando uma possível recuperação mais rápida.
Conclusões práticas
Em resumo, o estudo sugere que jogadores com o genótipo CC do gene TTN-AS1 podem ter maior predisposição a danos musculares e inflamação prolongada após treinos intensos.
Isso tem implicações práticas importantes para o treinamento e a recuperação. A identificação do genótipo pode auxiliar na individualização dos programas de treinamento, permitindo que técnicos e fisioterapeutas adaptem a carga de exercícios e os períodos de recuperação de acordo com as necessidades individuais, prevenindo lesões e otimizando o rendimento esportivo.
O estudo sugere que outros estudos confirmem e expandam esses achados, investigando a fundo os mecanismos biológicos envolvidos.
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